Petistas estimulam tese fantasiosa de que facada de Adélio em Bolsonaro foi forjada
16 de setembro de 2021Parlamentares e dirigentes do PT estão emulando nas redes sociais a fantasiosa tese de que a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro em 6 de setembro de 2018 pode ter sido um atentado falso, forjado pelo próprio candidato à Presidência com o objetivo de ser eleito.
A suposição é insinuada em 1 hora e 44 minutos de um documentário lançado no sábado (11) pelo site Brasil 247, alinhado ao PT. No título, a acusação é feita de forma direta -“Bolsonaro e Adélio, Uma Fakeada no Coração do Brasil”.
A Polícia Federal concluiu, em duas investigações, que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho, sem nenhuma evidência real de que tenha sido auxiliado por outras pessoas ou obedecido a um mandante. O inquérito mais recente tem nove volumes e 1.908 folhas.
Adélio sempre disse que agiu a mando de Deus, para tentar livrar o Brasil da vitória de Bolsonaro, que via como uma ameaça.
Considerado inimputável pela Justiça mediante diagnóstico de que ele tem transtorno mental que o incapacita de entender o caráter de crime que cometeu, ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande (MS).
O documentário do Brasil 247 tem como autor o jornalista Joaquim de Carvalho, que viajou a Minas Gerais e Santa Catarina e entrevistou personagens do episódio, entre outros elementos de apuração. Até as 22h desta quarta (15) somava cerca de 850 mil visualizações no YouTube.
Além de destacar informação falsa -a de que Adélio Bispo de Oliveira foi filiado ao PSD-, o documentário recorre a uma série de teorias da conspiração que pululam na internet, a maioria delas investigadas e descartadas pela Polícia Federal.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) escreveu que “o jornalismo cumpre papel importante ao investigar o caso das facadas”.
“Sempre acredito na vítima. Por esse motivo, naquele momento manifestei minha solidariedade ao atingido. Mas acreditava que existiria uma investigação mais profunda sobre o autor. O fato dele frequentar o clube de tiro dos filhos nunca foi respondido. Independente do documentário, avalio que isso gera suspeita fundamentada.”
Ela se refere ao fato conhecido de Adélio ter ido meses antes, por alguns dias, a um local de Santa Catarina também frequentado por dois filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, a “.38 Clube e Escola de Tiro”.
O documentário trata como “a chave do segredo” essa relação, insinuando que ali poderia ter sido acertada a trama do suposto atentado fajuto.
Apesar de aventar a tese de que uma sofisticada rede criminosa planejou minuciosamente uma espetacular fraude até hoje não desmascarada, não há explicação sobre o fato de que o caso da 38 só ter vindo à tona porque tanto os Bolsonaro quanto Adélio divulgaram a presença na escola de tiro em suas redes sociais, para qualquer um ver.
E por que trama tão engenhosa precisaria ser combinada pessoalmente em um clube de tiro de Santa Catarina, com check-in no Facebook.
Outra das contradições é que o documentário reserva vários minutos para levantar a hipótese de que um fotógrafo foi distraído de propósito em meio à multidão para não registrar o momento exato da facada, “ou da suposta facada”, como repete o jornalista em vários momentos do vídeo.
Ele não explica, entretanto, qual serventia haveria nessa atitude, sendo que a cena estava sendo gravada de perto por câmaras profissionais e de incontáveis aparelhos de telefone celular.
O documentário também tenta emplacar a tese de que Adélio era, na verdade, uma pessoa com posições mais alinhadas ao bolsonarismo, não uma pessoa simpática à esquerda.
Adélio foi filiado ao PSOL de Uberaba de 2007 a 2014, mas nunca militou –esse fato, sustenta o documentário, serviu à narrativa eleitoral da facada fajuta, a de que a esquerda quis tirar Bolsonaro da disputa.
O jornalista Joaquim de Carvalho ressalta no documentário a sua estranheza sobre o fato de a imprensa nunca ter dito que Adélio havia sido filiado do centro-direitista PSD, de Gilberto Kassab, até 2016.
Como prova, mostrou um pedido de desfiliação do PSD assinado por Adelio.
A informação é falsa, Adélio jamais foi filiado ao PSD, e essa informação está disponível a qualquer cidadão no Tribunal Superior Eleitoral e é confirmada pelo partido.
À PF Adélio relatou que uma vez procurou a Justiça Eleitoral por achar que poderia ter sido filiado à revelia pelo PSD. Daí, assinou uma requisição de desfiliação, por segurança, apesar de ter obtido na mesma ocasião certidão oficial que informava não ter havido essa filiação.
O responsável pelo documentário disse considerar que a suspeita de Adélio de que era filiado representa, na prática, a seu ver, uma filiação.
“O Adélio pediu desfiliação do PSD. Se ele pediu desfiliação, é porque se considerava filiado, o que equivale dizer: era filiado de fato.” Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Rogério Correia (PT-MG), entre outros, também divulgaram o “Fakeada” em suas redes sociais.
Pré-candidato à presidência e maior liderança do PT, o ex-presidente Lula também já manifestou dúvidas públicas sobre se Bolsonaro sofreu ou não um atentado.
Em uma entrevista, o ex-presidente afirmou que a facada “tem uma coisa muito estranha”, já que não aparece sangue nas imagens. “O cara que dá a facada é protegido pelos seguranças do Bolsonaro, a faca que não aparece em nenhum momento”, disse, citando teorias da internet também reproduzidas no documentário.
Questionado novamente dias depois, afirmou que tinha suspeitas sobre o ocorrido: “Não, eu não disse que não tinha tomado, eu disse que não acreditava [que Bolsonaro levou uma facada]”.
O “Fakeada no Coração do Brasil” usa também em boa parte de uma edição de vídeos do dia da facada feita pela conta do YouTube “True or Not”.
A PF investigou formalmente os vídeos desse canal.
“As narrativas constantes destes vídeos, calcadas em análises superficiais das imagens e dos fatos em torno do crime, ilustram a quase totalidade das conjecturas e teorias lançadas após o atentado, e foram minuciosamente averiguadas, concluindo-se pela falsidade de todas as teses aventadas”, afirma o relatório do delegado Rodrigo Morais.
O vídeo explora ainda o fato de Bolsonaro não ter usado colete à prova de balas no dia, o mistério sobre o financiador da defesa de Adélio -se é que houve, já que há suspeita de que o caso possa ter sido assumido de graça, em busca de holofotes- e a ocupação de cargos no governo por seguranças do dia 6 de setembro.
Crédito: Folha Press/ Foto: Divulgação